“As polícias são mestras em enfatizar trivialidades, ações aparentemente positivas sem qualquer ou quase nenhum efeito prático, algumas vezes, simulações de nobreza, em outras, simulações de eficácia, sem falar nas falaciosas demonstrações de espírito comunitário. A parte é tida pelo todo, a comunidade se impressiona, os governos fingem que acreditam na competência, e tudo permanece inalteradamente mau”.
Não é diferente quando uma polícia se propõe à demagogia comum à política eleitoral. Anunciar medidas sem a certeza de sua eficácia, ou hiperdimensionar a eficácia de medidas já adotadas, pode até gerar bônus eleitoral aos governos, mas desgastam as corporações policiais, que, diferente dos governos, não são passageiras: perderão a credibilidade que possuem, inclusive internamente, gerando um ambiente de desconfiança e incredulidade.
Para que o leitor perceba a profundidade desta questão, mesmo o mais raso grau hierárquico das organizações policiais não têm coragem de admitir certos problemas e carências por que passa no dia-a-dia do seu trabalho – por exemplo, na família ou na roda de amigos em que se esteja realizando alguma exaltação e curiosidade sobre seu cotidiano profissional.
Como acabar com estes problemas? A resposta extremista seria “despolitizar” as corporações, algo inaplicável plenamente quando estamos tratando de organizações públicas. Mas é possível caminhar para uma “honestidade corporativa” aos poucos, atingindo aspectos da formação policial, reduzindo a dependência financeira ligada a cargos e funções e criando uma cultura mais efetiva de diagnóstico e transparência, que envolve inclusive a extinção de qualquer limitação à liberdade de expressão dos policiais.
Ou começamos a pensar sobre isso, ou continuaremos vivendo no País das Maravilhas, como Alice, sempre a desconfiar de nós mesmos:
“Eu não posso me explicar, eu estou com medo, senhor, porque eu não sou eu mesmo que você vê.”Alice no País das Maravilhas – Charles Lutwidge Dodgson
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