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Chegou a vez do (longo) governo de Angola cair?
por Leonardo Sakamoto
Jornalistas do coletivo Tás a ver?, que promove o intercâmbio cultural entre Brasil e países africanos, noticiaram que a onda de protestos no Norte da África está chegando ao Sul. Em Angola, país de colonização portuguesa e que ficou décadas sob uma sangrenta guerra civil, é o que possui o presidente africano há mais tempo no poder (junto com Guiné Equatorial): longos 32 anos. Lá, um protesto ocorrido no sábado (3), terminou em presos e desaparecidos.
Apesar de eleições, Angola é um regime autoritário, onde ninguém se atreve a falar mal de “Zedu”, como é chamado o presidente José Eduardo dos Santos. De acordo com Juliana Borges, cujo trabalho sério na cobertura de temas angolanos acompanho há muito tempo, pertencente à equipe do Tás a ver?, explicou que as manifestações na internet e as presenciais contra o governo começaram a aparecer no primeiro semestre. No último sábado, um protesto marcado pela rede mundial de computadores acabou com 50 presos – sendo que 20 pessoas ainda estão desaparecidas. As manifestações ainda são tímidas e o apoio ao governo é grande.
Por enquanto.
Uma manifestação realizada no último sábado (3/9), na capital Luanda, contra o governo do presidente José Eduardo dos Santos, há 32 anos no poder, acabou em violência, prisões e desaparecimentos.
Até agora, as informações estão desencontradas. Segundo a agência oficial do governo, 24 pessoas foram presas. Mas, de acordo com o advogado Nelson Pestana Bonavena, com quem o Tás a ver? conversou por telefone, 50 manifestantes acabaram na cadeia, sendo que 20 deles ainda não foram localizados. Bonavena é professor da Universidade Católica de Angola e dirigente Bloco Democrático, partido que faz oposição ao governo do MPLA, no poder em Angola desde a independência, em 1975. Ele está ajudando a localizar e a dar amparo judicial e moral aos detidos.
“Fala-se em 50 detidos, mas até agora só conseguimos levantar os nomes e saber o paradeiro de 30 deles”, afirma Bonavena. “Todos os presos estão impedidos de se comunicar com seus advogados e com suas famílias”, completa o advogado. Há informações, ainda não confirmadas, de que os jovens serão levados a um tribunal para julgamento sumário nesta terça-feira.
Ainda segundo o advogado, cinco pessoas foram liberadas no início da noite desta segunda-feira a partir da 2a Esquadra de Luanda. Apenas o nome de um deles (Pedro Sozinho) foi divulgado. Um boletim divulgado pela Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD) informou que os jovens presos “sofreram torturas físicas e psicológicas e foram ameaçados de morte”.
Conflitos foram gravados – Por volta das 12h do dia 3, cerca de 200 jovens reuniram-se no Largo da Independência, região central de Luanda. Segundo os organizadores da manifestação, parte do grupo tentou então se dirigir ao Palácio Presidencial, para exigir a soltura de um dos mentores do protesto, que teria sido preso na véspera do evento. Cerca de 300 metros depois, o grupo foi barrado pela polícia e fortemente reprimido. Diversos vídeos postados na internet confirmam que houve conflitos entre os policiais e os manifestantes.
Alexandre Neto, correspondente de uma rádio portuguesa em Luanda, disse em entrevista à SIC que policiais à paisana infiltraram-se no protesto e iniciaram as agressões, e só depois a policia fardada chegou ao local.
O protesto foi convocado por um vídeo postado no Youtube dois dias antes, em que jovens se apresentavam e faziam fortes críticas ao governo do presidente José Eduardo dos Santos. O mote do vídeo é “32 é muito”, em referência aos 32 anos de seu governo.
Depois da queda do líbio Muamar Kadafi, José Eduardo dos Santos tornou-se, ao lado de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, da Guiné Equatorial, o líder africano há mais tempo no poder.
De acordo com um músico angolano com quem o Tás a ver? conversou, e que preferiu não se identificar, muita gente nem está ciente do que ocorreu nas ruas de Luanda, principalmente que está fora da capital. “Eu mesmo fiquei sabendo muitas horas depois, pelas redes sociais”, afirmou o músico.
A manifestação de 3 de Setembro dá continuidade aos protestos organizados no início do ano por um grupo de jovens artistas e ativistas insatisfeitos com o governo. Um deles é o rapper Ikonoklasta, que aparece neste vídeo fazendo críticas ao governo angolano durante um concerto.
No dia 7 de março, uma manifestação agendada pela internet acabou com a prisão por 12 horas de 17 pessoas, sendo que quatro delas eram jornalistas que estavam cobrindo o evento.
Os meios de comunicação oficiais angolanos, principal fonte de informação da maioria da população, não divulgaram até o momento nenhuma notícia sobre o protesto.
Fonte: Blog do Sakamoto
Chegou a vez do (longo) governo de Angola cair?
por Leonardo Sakamoto
Jornalistas do coletivo Tás a ver?, que promove o intercâmbio cultural entre Brasil e países africanos, noticiaram que a onda de protestos no Norte da África está chegando ao Sul. Em Angola, país de colonização portuguesa e que ficou décadas sob uma sangrenta guerra civil, é o que possui o presidente africano há mais tempo no poder (junto com Guiné Equatorial): longos 32 anos. Lá, um protesto ocorrido no sábado (3), terminou em presos e desaparecidos.
Apesar de eleições, Angola é um regime autoritário, onde ninguém se atreve a falar mal de “Zedu”, como é chamado o presidente José Eduardo dos Santos. De acordo com Juliana Borges, cujo trabalho sério na cobertura de temas angolanos acompanho há muito tempo, pertencente à equipe do Tás a ver?, explicou que as manifestações na internet e as presenciais contra o governo começaram a aparecer no primeiro semestre. No último sábado, um protesto marcado pela rede mundial de computadores acabou com 50 presos – sendo que 20 pessoas ainda estão desaparecidas. As manifestações ainda são tímidas e o apoio ao governo é grande.
Por enquanto.
Segue o texto:
Jovens são presos em Angola por protestar contra o governo; 20 ainda estão desaparecidosUma manifestação realizada no último sábado (3/9), na capital Luanda, contra o governo do presidente José Eduardo dos Santos, há 32 anos no poder, acabou em violência, prisões e desaparecimentos.
Até agora, as informações estão desencontradas. Segundo a agência oficial do governo, 24 pessoas foram presas. Mas, de acordo com o advogado Nelson Pestana Bonavena, com quem o Tás a ver? conversou por telefone, 50 manifestantes acabaram na cadeia, sendo que 20 deles ainda não foram localizados. Bonavena é professor da Universidade Católica de Angola e dirigente Bloco Democrático, partido que faz oposição ao governo do MPLA, no poder em Angola desde a independência, em 1975. Ele está ajudando a localizar e a dar amparo judicial e moral aos detidos.
“Fala-se em 50 detidos, mas até agora só conseguimos levantar os nomes e saber o paradeiro de 30 deles”, afirma Bonavena. “Todos os presos estão impedidos de se comunicar com seus advogados e com suas famílias”, completa o advogado. Há informações, ainda não confirmadas, de que os jovens serão levados a um tribunal para julgamento sumário nesta terça-feira.
Ainda segundo o advogado, cinco pessoas foram liberadas no início da noite desta segunda-feira a partir da 2a Esquadra de Luanda. Apenas o nome de um deles (Pedro Sozinho) foi divulgado. Um boletim divulgado pela Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD) informou que os jovens presos “sofreram torturas físicas e psicológicas e foram ameaçados de morte”.
Conflitos foram gravados – Por volta das 12h do dia 3, cerca de 200 jovens reuniram-se no Largo da Independência, região central de Luanda. Segundo os organizadores da manifestação, parte do grupo tentou então se dirigir ao Palácio Presidencial, para exigir a soltura de um dos mentores do protesto, que teria sido preso na véspera do evento. Cerca de 300 metros depois, o grupo foi barrado pela polícia e fortemente reprimido. Diversos vídeos postados na internet confirmam que houve conflitos entre os policiais e os manifestantes.
Alexandre Neto, correspondente de uma rádio portuguesa em Luanda, disse em entrevista à SIC que policiais à paisana infiltraram-se no protesto e iniciaram as agressões, e só depois a policia fardada chegou ao local.
O protesto foi convocado por um vídeo postado no Youtube dois dias antes, em que jovens se apresentavam e faziam fortes críticas ao governo do presidente José Eduardo dos Santos. O mote do vídeo é “32 é muito”, em referência aos 32 anos de seu governo.
Depois da queda do líbio Muamar Kadafi, José Eduardo dos Santos tornou-se, ao lado de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, da Guiné Equatorial, o líder africano há mais tempo no poder.
De acordo com um músico angolano com quem o Tás a ver? conversou, e que preferiu não se identificar, muita gente nem está ciente do que ocorreu nas ruas de Luanda, principalmente que está fora da capital. “Eu mesmo fiquei sabendo muitas horas depois, pelas redes sociais”, afirmou o músico.
A manifestação de 3 de Setembro dá continuidade aos protestos organizados no início do ano por um grupo de jovens artistas e ativistas insatisfeitos com o governo. Um deles é o rapper Ikonoklasta, que aparece neste vídeo fazendo críticas ao governo angolano durante um concerto.
No dia 7 de março, uma manifestação agendada pela internet acabou com a prisão por 12 horas de 17 pessoas, sendo que quatro delas eram jornalistas que estavam cobrindo o evento.
Os meios de comunicação oficiais angolanos, principal fonte de informação da maioria da população, não divulgaram até o momento nenhuma notícia sobre o protesto.
Fonte: Blog do Sakamoto
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